Por volta de 2006, ano em que a Devir Editora era considerada a maior empresa que publicava RPGs de mesa no Brasil, incluindo as licenças de grandes títulos gringos como Dungeons & Dragons e Vampiro: A Máscara. Uma editora brasileira fazia até um certo sucesso com obras nacionais e um preço acessível. Enquanto um manual de Vampiro custava na casa dos 50 reais (o que era bastante salgado na época), o maior título da editora custava 35. Mas tinha jogos na casa dos 20 (ou até menos, como no caso do Anime RPG - um velho de guerra cujo tenho até hoje e fiz centenas de aventuras e campanhas ao longo do anos.)
Era a Daemon Editora, fundada por um dos mais bem-sucedidos autores de RPG na época. Alguém que criou títulos sobre anjos, demônios, vampiros e tudo o que envolvia o sobrenatural. E graças ao seu sistema de jogo aberto (chamado Sistema Daemon), possibilizou uma certa popularidade quando em 2003 criou em seu site um espaço para a criação de netbooks pro sistema. Assim, mesmo se a pessoa não comprasse algum de seus livros, sempre tinha material novo para seus fãs - e também era a oportunidade para novos autores apresentarem seus cenários/adaptações para todo o Brasil.
Foi graças a isso que a editora modificou o sistema de jogo para criar uma versão de miniaturas, chamado RPGQuest. Aqui, os heróis entravam em masmorras para enfrentar monstros e colher tesouros, da mesma forma que a primeira edição de D&D. Eu cheguei a conferir a maioria dos manuais lançados, cujo cada um se focava em um ambiente de jogo. No primeiro, você montava masmorras e tinha o mesmo ambiente de D&D. Já no segundo, era focado em campo aberto e tinha um único mapa de dois lados que servia para jogar RPG como também, num jogo de "batalhas de miniaturas" - a grande inovação deste módulo. Em seguida, fizeram um sobre os templários e tinha até a miniatura de um dragão (mas não consegui ter em mãos o mesmo) e por fim, Aventuras orientais, que foi dividido em dois livros - focado no japão feudal.
O conceito do RPGQuest era brilhante e inovador. Marcelo Del Debbio (alguém que admirava como criador do sistema de jogo que me divertiu por horas e mais horas) usou todas as escalas das miniaturas e tabuleiros para serem usadas de D&D - ganhando clientes cujo queriam material para este jogo. As miniaturas eram de papel e tinha um lado de frente e verso, mas não eram tão boas. Mas usei várias vezes mestrando Reinos de Ferro RPG (cujo já falei dele aqui no blog) e em outras campanhas. Já o mapa que tenho até hoje do módulo 2, usamos principalmente em D&D - já que usa a mesma medida. Inclusive na nossa mais recente campanha de quinta edição que meu irmão comprou e também já falou a respeito aqui no blog.
Só que a editora queria ir além de fazer um jogo de miniaturas. Queria fazer um RPG que batesse de frente com Dungeons & Dragons, fornecendo mais material de campanha e que fosse mais acessível. O que não era ruim, pois se estavam comprando as miniaturas e tabuleiros para jogar D&D, porque não oferecer um sistema e lucrar muito mais com RPG de mesa? Além do fato que as pessoas não precisariam comprar dados multifacetados - usando apenas 2d6 para iniciar a diversão.
Assim, em 2006 a Daemon lançou o módulo definitivo de RPG Quest. Sendo o jogo com mais raças, classes e equipamentos. Com 56 mini cenários e tudo aquilo que não tinha aquele caríssimo livro do jogador 3.5
Para fazer um livrão com tantos tipos de raças, o jogo apresentava um Multiverso.
Alguns cenários incluíam inferno, mundo dos mortos, mitologia grega, etc. O fã de fantasia medieval tinha tantas opções para escolher entre mundos diferentes que muitas das vezes, ficava até confuso ou engraçado. Como por exemplo, um amigo querendo fazer um Minotauro Jedi (sim, tem a classe Jedi aqui). Os caras tiveram a cara de pau de inserir espécies de outros jogos, como os robôs do Reinos de Ferro como raça básica, alem de outras tiradas de tudo o que é lugar.
Já no capítulo de classes, oferece regras para ser multiclasse e lhe apresenta centenas delas. Com perícias, habilidades e que tipo de armas usa. Tem até uma classe chamada Pastor (que é uma mistura de clérigo com ladino, segundo o autor). O que eu acho uma falta de respeito, pois ofende a religião alheia. Por isso que disse que naquela época, o admirava só porque criou o sistema - pois há certos pontos em seus textos (principalmente, ataque aos cristãos) que não me agradam nenhum pouco.
Diferente de D&D, você tem pontos de experiência que funcionam como GURPS e qualquer sistema genérico. Você ganha pontos para comprar habilidades, perícias e atributos. Na qual são descritos com palavras em vez de números, por exemplo, BOM, significa +1, NORMAL, +0 e DIVINO +10 (se não me engano...) o que pode atrair mais novatos, mas que na minha opinião, é melhor ficar só nos números mesmos, já que ninguém fala bom, muito bom ou normal... pessoal quer saber o valor real daquilo.
Quando você começa a folhear o livro, percebe-se que o autor parece criticar D&D, dizendo que não é jogo de interpretação e forçando a barra de que seu jogo é o mais completo. Mas é difícil levar a sério quando praticamente o sistema apresentado é uma espécie de d20/Daemon, incluindo as regras de Magia. Quem conhece o sistema de jogo da editora, sabre que o sistema de Magia é um dos melhores, mas preferiram copiar o sistema de Dungeons & Dragons (aquele negócio de memorizar magias) e incluíram uma mecânica que permite disparar algumas magias a mais. Só que além de copiar na cara dura as raças e algumas habilidades em D&D, ainda copiam as magias do jogo gringo...
Como é que você vai competir ou criticar algo de que você está copiando???
Mesmo que o livro seja em preto e branco e tenha tantas qualidades, ele mata todo o conceito do jogo com a coisa mais importante em campanhas de fantasia: os MONSTROS.
Não apresenta um bestiário e nem regras para montar ou adaptar monstros. Fazendo o consumidor que resolveu economizar comprando-o em vez do livro do jogador 3.5, deixá-lo na prateleira ou abandona-lo até que venha o tal "livro do monstros" - que saiu no ano seguinte se não me engano, colocando um Beholder na capa (o que não poderia, já que é MONSTRO EXCLUSIVO DO D&D).
Para que colocar 120 deuses no livro básico? Tantos panteões usando conceito da Cabala (é RPG ou magia de verdade?) Além disso, tem regras para psiônicos e nenhuma criatura. Apenas simples regras pra Familiares.
Não dá... apesar de usar a mesma base, é um novo sistema do zero. Ou seja, ou você joga os módulos com os RPGQuest antigo ou fica sem monstro na sua campanha. Os únicos monstros que dão para jogar nesse novo sistema, são do módulo cinco (Aventuras Orientais 2) que vieram com criaturas já atualizadas pro novo sistema.
O RPGQuest só voltou dar as caras em 2017, 11 anos depois do lançamento deste jogo. Mas nem quero saber o que se trata porque para mim, já deu. Diferente do Anime RPG, este jogo não da para ser levado a sério só com o livro básico, por isso, faz parte aqui da coleção (graças a um "presente" de alguém que comprou e não quis mais) e ficará por lá. Cheguei a jogar algumas campanhas, mas sinceramente, não dá.
É uma cópia de D&D que tentou desafiá-lo (usando as mesmas magias e conceitos)...
E olha que nem gosto muito de D&D, sempre preferi GURPS!
Achei legal sua análise!
ResponderExcluirEu não vejo problema no autor fazer piadas com religiões, acho até engraçado, mas realmente não é necessário, eles já possuem um jogo exclusivamente para isso chamado Pequenas Igrejas, Grandes Negócios, e isso trás mais problemas para a gente, já que o Brasil já tem um pé atrás com RPG.
O Marcelo tem bastante coisa publicada e interessante sobre filosofica hermética, ocultimos e Kabbalah, alguns comentários infelizes não tiram o mérito da obra toda.
Ontem mesmo fui jogar com alguns amigos, compramos faz tempo o livro, mais de 10 anos atrás, só hoje fomos usar, e realmente falta "coisas" no livro, faltam monstros, as habilidades, perícias e sistema de magia é relativamente complexo, o livro não tem indicadores da sessão em que você está lendo, falta talvez uma aventura exemplo, como vinha nos livros temáticos de 3D&T (UFO Team).
Eu tenho aqui comigo muita coisa do Sistema Daemon que nunca joguei, será que ele é bom? Comprei quando era muito criança, nunca cheguei a ler a fundo, gosto muito da temática do Trevas/Arkhanum.
O Sistema Daemon foi um dos que eu mais joguei... e é até um bom sistema, mas quando você conhece outros jogos, começa a deixá-lo de lado e vê-lo que é apenas um 3D&T com mais coisas. Acho que a pior coisa que tem no Daemon é seu sistema de xp, que é muito ruim e não apresenta evoluções; Nunca joguei os carro-chefe da editora (Trevas/Arkanum), por isso não sei se nesses jogos o sistema corresponde.
ExcluirPois é, eu sou um cara que praticamente só jogou 3D&T, há muito tempo atrás.
ExcluirPreciso dar uma experimentada no Daemon com algumas pessoas.
Quanto a experiência, não bastaria apenas "ignorar" essa regra e fazer da sua forma? Essas evoluções, seriam o que?
Evolução de personagem. O sistema de níveis do jogo é muito ruim! Você só ganha 1 ponto de vida, 1 Ponto de aprimoramento a cada três níveis e 25 pontos de perícia? Você nunca terá um personagem mais forte em comparação a outros jogos! (Aqui no blog temos uma sessão só de RPG de mesa, onde resenhamos todos os jogos do gênero que temos. Se desejar ler, vai conhecer muitos bons RPGs publicados em RPG.)
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